"Há palavras boas e palavras más, palavras bonitas
e palavras feias. A palavra Brasília é muito bonita mas a palavra sofrimento não é.
e palavras feias. A palavra Brasília é muito bonita mas a palavra sofrimento não é.
Há palavras que não dão com as coisas para que servem. Lua, por exemplo, dá, não podia ser outro nome porque não era essa coisa,
mas caderno não dá.
Lembra inverno e o inferno e os cadernos dependem,
nem todos são horríveis, só o de matemática, para mim.
As palavras também servem para dizer e consolar ou sofrer.
As palavras também servem para dizer e consolar ou sofrer.
Essas não são uma a uma, como as que eu escrevi antes,
são em frases,
isto é, todas de seguida.
Boa, por exemplo, é uma palavra boa, parece macia,
mas se a pessoa nos diz “a menina não é boa”
e abana a cabeça, isso pode afligir muito.
Há palavras que postas assim saem ao contrário,
por exemplo, fresca.
Se for fruta é bom, se for para pessoas, não.
A palavra triste por exemplo, é uma palavra azul,
porque quase todas as palavras têm cores.
A palavra mãe é grosso demais
para o que é a palavra pai é muito clara e leve demais.
E agora vou inventar a palavra desinteligente
que é o que eu acho que sou
por causa da confusão que me fazem as palavras e de estar sempre calada.
As palavras são feitas de letras e só se ouvem na cabeça.
Fim."
MARIANA. As palavras.
[In:] BARBOSA, Severino Antônio; AMARAL, Emília.
Escrever é desvendar o mundo.
3. ed. Campinas: Papirus, 1988. p. 164.
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