"Eu tinha dito que iria propor tirar a palavra utopia do dicionário.
Mas, enfim, não vou a tanto.
Deixe ela lá estar, porque está quieta.
O que eu queria dizer, é que há uma outra questão
que tem de ser urgentemente revista.
de quem já não se espera milagres,
mas que está aí como referência.
E não se repara que a democracia em que vivemos
é uma democracia seqüestrada, condicionada, amputada.
O poder do cidadão, o poder de cada um de nós,
limita-se, na esfera política,
a tirar um governo de que não se gosta
e a pôr outro de que talvez venha a se gostar.
Nada mais.
Mas as grandes decisões são tomadas em uma outra grande esfera
e todos sabemos qual é.
As grandes organizações financeiras internacionais, os FMIs,
a Organização Mundial do Comércio, os bancos mundiais.
Nenhum desses organismos é democrático.
E, portanto, como falar em democracia
se aqueles que efetivamente governam o mundo
não são eleitos democraticamente pelo povo?
Quem é que escolhe os representantes dos países nessas organizações?
Onde está então a democracia?"
José de Sousa Saramago
(1922 - 2010)
escritor, roteirista, jornalista, dramaturgo e poeta português
Prêmio Nobel da Literatura (1988)
Prêmio Camões (1995)
Poema publicado na
Revista Espaço Acadêmico, ano VI, n. 69, fevereiro de 2007.
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