domingo, 21 de maio de 2017

O que é parafrasear? A citação indireta segundo Umberto Eco e a NBR 10520/2002

   Boa tarde! Em 03 de março de 2013, eu publiquei um artigo intitulado: “O que é parafrasear? A citação indireta segundo Eco”, cujo link é: [http://www.abntouvancouver.com.br/2013/03/o-que-e-parafrasear.html]. Acontece que tenho recebido alguns comentários e/ou emails sobre a existência de erros na explicação de Umberto Eco, relativamente às normas da ABNT.Entre as perguntas recebidas, estão: ...
1ª. – Edna Quesada, comentário em 22 abril 2017

Boa tarde Regina, gostaria muito que você me ajuda pois estou tendo muita dificuldade em responder esta questão: A coleta e a análise dos dados nos trabalhos científicos são estabelecidos por regras técnicas e éticas e, portando, são pressupostos o respeito e devida citação das referências, quando utilizadas. O filósofo Umberto Eco descreveu em seu livro “Como se faz uma tese”, a diferença entre o plágio e a paráfrase.
Como ter certeza de que uma paráfrase não é um plágio? Antes de tudo, sua explicação pode ser mais curta do que o original, é claro. Mas há casos em que o autor diz coisas de grande conteúdo numa frase ou período curtíssimo, de sorte que a paráfrase deve ser muito mais longa do que o trecho original. [...] Eco (1983, página128)
a-) O enunciado desta pergunta apresenta diversos erros de formatação de acordo com a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Identifique dois 2 destes erros e aponte a maneira correta de formatação. [...] O que é Parafrasear? a citação indireta, segundo Umberto Eco
2ª. Kabir Balogun, email datado de 07 abril 2017

"Como ter certeza de que uma paráfrase não é um plágio? Antes de tudo, sua explicação pode ser mais curta do que o original, é claro. Mas há casos em que o autor diz coisas de grande conteúdo numa frase ou período curtíssimo, de sorte que a paráfrase deve ser muito mais longa do que o trecho original". Eco (1983, página128)
O enunciado desta pergunta apresenta diversos erros de formatação de acordo com a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Identifique estes erros e aponte a maneira correta de formatação em O que é Parafrasear? a citação indireta, segundo Umberto Eco

   Para melhor destacar as dúvidas que o trecho de Eco vem suscitando em vários acadêmicos, perguntas essas que têm sido sugeridas em aulas de Metodologia Científica, vou desenvolver este artigo, eu vou enumerar os assuntos a abordar em subitens, para melhor compreensão.

1. Norma NBR 10520/2002 – Citações.
   Esta é a norma que define a forma como devem ser feitas as citações diretas e indiretas dentro de um texto acadêmico. 
  Em oportunidades anteriores, eu publiquei aqui alguns artigos sobre esta norma, entre eles um que denominei: “Citações Diretas e Citações Indiretas: NBR 10520/2002", em 26 maio de 2013, cujo link é [http://www.abntouvancouver.com.br/2013/05/citacoes-diretas-e-citacoes-indiretas.html].
 A respeito desta norma, podemos relembrar as definições que ela estabelece, destacar: (DEL-BUONO, 2015, p.22): 
ABNT NBR 10520/2002 – Citações. Norma que estabelece “as características exigíveis para apresentação de citações em documentos”. Segundo esta norma, define-se que:
citação: é a menção de uma informação extraída de outra fonte;
citação de citação: citação direta ou indireta de um texto em que não se teve acesso ao original;
citação direta: transcrição textual de parte da obra do autor consultado;
citação indireta: texto baseado na obra do autor consultado;
notas de referência: notas que indicam fontes consultadas ou remetem a outras partes da obra onde o assunto foi abordado;
notas de rodapé: indicações, observações ou aditamentos ao texto feitos pelo autor, tradutor ou editor, podendo também aparecer na margem esquerda ou direita da mancha gráfica;
notas explicativas: notas usadas para comentários, esclarecimentos ou explanações, que não possam ser incluídos no texto.

2. Diferenças entre citações diretas e citações indiretas 

   Em 09 de abril de 2017 eu publiquei um artigo também relacionado à questão das citações diretas e indiretas, intitulado: “Diferenças entre a citação direta curta e longa”, cujo link é: [http://www.abntouvancouver.com.br/2017/04/diferencas-entre-citacao-direta-curta-e.html], através do qual, foram dadas explicações para o caso de um texto próprio, no qual estou mencionando esta mesma obra/autor:

1a. citação direta:
   Parafrasear significa "explicar com suas próprias palavras" ideias ou conceitos obtidos em determinado autor (FERREIRA, 2009, p.608).
   
Note(m) que esta é uma citação direta curta, isto é, tem extensão de até 3 linhas, e por este motivo, diz a regra que deve ser inserida dentro do parágrafo em construção, "entre aspas". A paráfrase (ou citação indireta) é um recurso importante para todo bom redator, especialmente para os estudantes universitários, porque não se deve recorrer excessivamente ao uso de citações diretas ao longo de um texto.

2a. citação direta longa:
   Segundo Eco (1983, p.128): "Como ter certeza de que uma paráfrase não é um plágio? Antes de tudo, sua explicação pode ser mais curta do que o original, é claro. Mas há casos em que o autor diz coisas de grande conteúdo numa frase ou período curtíssimo, de sorte que a paráfrase deve ser muito mais longa do que o trecho original".
   
Note(m) que esta é uma citação direta longa, ou seja, maior do que três linhas, e dessa forma, deve ser feita da seguinte forma:
1. recuo de 4 cm da margem do texto em desenvolvimento;
2. a fonte deve ser reduzida para o tamanho 10, enquanto que ao longo do texto, deve-se utilizar a fonte 12;
3. o entrelinhas de uma citação deve ser reduzido para 1cm, enquanto que ao longo do texto deve-se utilizar 1,5cm.

   De acordo com a regra, a forma correta de transcrever este trecho seria:

  Segundo Eco (1983, p.128):
Como ter certeza de que uma paráfrase não é um plágio? Antes de tudo, sua explicação pode ser mais curta do que o original, é claro. Mas há casos em que o autor diz coisas de grande conteúdo numa frase ou período curtíssimo, de sorte que a paráfrase deve ser muito mais longa do que o trecho original.

3. Várias perguntas sobre o mesmo trecho escrito por Eco

   Diante de vários comentários e emails recebidos sobre esse mesmo trecho escrito por Eco, no início deste mês, eu escrevi diretamente para a Comissão de Estudo de Identificação e Descrição (CE-014:000.003), para assegurar-me de que a minha compreensão e artigos publicados estão em conformidade com o que dita a referida NBR 10520/2002, oportunidade na qual, eu obtive a seguinte resposta:
A norma ABNT NBR 10520 determina, em suas regras que:
1) Citação direta, até 3 linha, o texto esteja entre aspas duplas;
2) Citação direta, com mais de 3 linhas, seja observado o recuo de 4 cm, fonte menor e sem aspas duplas.
3) A indicação da autoria deverá estar entre parênteses, observando a caixa alta.




4. Compreender melhor o motivo das dúvidas sobre este trecho de Eco. 

   Apenas para contextualizar, eu vou inserir uma cópia fiel do trecho (em vermelho) no qual o parágrafo em questão está inserido, conforme está às páginas 128 do livro “Como se faz uma tese?” escrito por Eco, sem me preocupar em fazer uma citação direta, mas apenas uma cópia para sua observação.

5.3.2. Citações, paráfrases e plágio

Ao elaborar a ficha de leitura, você resumiu vários pontos do autor que lhe interessavam: isto é, fez paráfrases e repetiu com suas próprias palavras o pensamento do autor. E também reproduziu trechos inteiros entre aspas.

Ao passar para a redação da tese, já não terá sob os olhos o texto, e provavelmente copiará longos trechos das fichas. Aqui, é preciso certificar-se de que os trechos que copiou são realmente paráfrases e não citações sem aspas. Do contrário, terá cometido um plágio.

Essa forma de plágio é assaz comum nas teses. O estudante fica com a consciência tranquila porque informa, antes ou depois, em nota de rodapé, que estás e referindo àquele autor. Mas o leitor, que, por acaso, percebe na página não uma paráfrase do texto original, mas uma verdadeira cópia sem aspas, pode tirar daí uma péssima impressão. E isto não diz respeito apenas ao orientador, mas a qualquer que posteriormente estude a sua tese, para publicá-la ou para avaliar sua competência. 

Como ter certeza de que uma paráfrase não é um plágio? Antes de tudo, sua explicação pode ser mais curta do que o original, é claro. Mas há casos em que o autor diz coisas de grande conteúdo numa frase ou período curtíssimo, de sorte que a paráfrase deve ser muito mais longa do que o trecho original. Neste caso, não se deve preocupar doentiamente em nunca colocar as mesmas palavras, pois às vezes é inevitável ou mesmo útil que certos termos permaneçam imutáveis. Aprova mais cabal é dada quando conseguimos parafrasear o texto sem tê-lo diante dos olhos, significando que não só não o copiamos como o entendemos.

Para melhor esclarecer esse ponto, transcrevo – com o número 1 – um trecho de um livro (trata-se de Norman Cohn, Os Fanáticos do Apocalipse). 
Com o número 2 exemplifico uma paráfrase razoável.
Com o número 3 exemplifico uma falsa paráfrase, que constitui um plágio.
Como número 4 exemplifico uma paráfrase igual à do número 3, mas onde o plágio é evitado pelo uso honesto de aspas. [...]

   E assim, na continuidade desse subitem 5.3.2, Eco segue dando os exemplos elencados em seu texto. Ele discorre sobre o plágio, explicando que não se pode copiar trechos de outro autor para um texto próprio sem que a fonte seja mencionada. Ele não faz menções a outros autores em seu texto, até o momento em que fornece os 3 exemplos, para os quais ele menciona, através de uma nota de rodapé, cada fonte completa sobre a qual ele desenvolveu seus exemplos, sendo bastante didático.
  Eu entendo que um possível erro ocorreria somente se uma pessoa transcrevesse o referido trecho sem atentar para os detalhes da NBR 10520/2002, já que o trecho em questão se trata de uma citação direta longa, conforme já explicado em meus artigos anteriores, e que foi reafirmado pela resposta da Comissão de Estudo de Identificação e Descrição da ABNT.
   Na minha compreensão, inexiste, portanto, qualquer erro no enunciado em questão na escrita Eco em seu próprio livro.
  Espero ter colaborado com estas explicações sobre citações diretas e indiretas, e, especialmente sobre a obra deste renomado filósofo, educador e escritor que foi Umberto Eco.
Regina Del Buono
abntouvancouver@gmail.com

Referências 
DEL-BUONO, Regina C. Como elaborar o resumo da monografia? Coleção: Artigos e Monografias sem Mistérios. São Paulo: 2015. Ebook. 
ECO, Umberto. Como se faz uma tese. São Paulo: Perspectiva. 1988.


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