Bom dia! Estabelecer a hipótese – ou resposta hipotética – em um texto acadêmico-científico é algo que exige o cuidado na pesquisa e leitura de obras e autores especializados no tema sobre o qual se pretende escrever, a partir da definição do problema a ser investigado. Em 02 de agosto de 2020, publiquei o artigo denominado: "Problema vs. Hipótese do texto acadêmico-científico – Monografias e TCCs”, cujo link é: [http://www.abntouvancouver.com.br/2020/08/problema-versus-hipotese-do-texto.html], no qual abordei a questão da problematização e da hipótese, assuntos aos quais voltamos hoje.
No que se refere à aquisição de saberes e práticas científicas, Praia, Cachapuz e Gil-Perez (2002, p.255) defendem que “o conhecimento científico é um constante jogo de hipóteses e expectativas lógicas, um constante vaivém entre o que pode ser e o que é, uma permanente discussão e argumentação/contra-argumentação entre a teoria e as observações e as experimentações realizadas”.
Sobre a construção do conhecimento científico, Barros (2008, p.153) explica que uma hipótese sugerida como resposta a um problema de pesquisa pode ser considerada como “uma espécie de fio condutor para a construção do conhecimento”. Este autor define o problema e a hipótese (BARROS, 2008, p.153):
Problematizar é lançar indagações, propor articulações diversas, conectar, construir, desconstruir, tentar enxergar de uma nova maneira, e uma série de operações que se fazem incidir sobre o material coletado e os dados apurados. Problematizar, nas suas formulações mais irredutíveis, é levantar uma questão sobre algo que se constatou empiricamente ou sobre uma realidade que se impôs ao pesquisador.
Ainda Barros ensina que a proposição de uma resposta hipotética colabora para que “o impasse produzido pelo problema” permita a busca pela solução adequada, podendo ser “descartadas” as hipóteses que não atendam à resposta desejada/necessária. Assim, Barros (2008, p.152-3) define que “a hipótese corresponde a uma resposta possível ao problema formulado, a uma suposição ou solução provisória mediante à qual a imaginação se antecipa ao conhecimento, e que se destina a ser ulteriormente verificada (para ser confirmada ou rejeitada)”.
Mesmo que seja “provisória”, a hipótese colabora na argumentação científica, tendo algumas funções nessa construção do conhecimento científico, que merecem destaque (BARROS, 2008, p.153):
1. Função Norteadora: direcionamento da pesquisa, ao fixar as finalidades de cada etapa a ser cumprida ao longo da pesquisa, e ainda, no que se refere aos procedimentos metodológicos específicos;2. Função Delimitadora: restringir o campo de pesquisa;3. Função Interpretativa: propor uma possível solução para o Problema investigado4. Função Argumentativa: desencadear inferências e funcionar como pontos de partida para deduções (encaminhamento do método hipotético-dedutivo de raciocínio)5. Função Complementadora: preencher lacunas do conhecimento, ao propor explicações provisórias;6. Função Multiplicadora: se potencialmente generalizável, permitir uma aplicabilidade adaptada a outras pesquisas (possibilitando, desta forma, o avanço ou o enriquecimento do conhecimento científico).
Praia et al. (2002, p. 254-5) adotam a mesma linha de raciocínio de Barros (2008), ao defenderem que “a hipótese tem um papel de articulação e de diálogo entre as teorias, as observações e as experimentações, servindo de guia à própria investigação”. Assim, é importante ressaltar “a criação da hipótese científica e a sua validação”, ou seja, a resposta hipotética deve ser confirmada ao longo do texto, podendo ser essa confirmação “positiva ou negativa”.
Para Carvalho (2000, p.3), “ a ciência não é imediatista, não se contenta com informações superficiais sobre um aspecto da realidade, mesmo que esta informação seja útil de alguma maneira”; a ciência procura sempre corrigir suas produções, já que “o conhecimento científico se caracteriza também como uma procura das possíveis causas de um acontecimento”.
Em resumo, a partir da formulação do problema a ser investigado pelo tema escolhido, e principalmente, com a leitura de toda a literatura selecionada para a escrita de sua monografia/TCC, as teorias e conceitos analisados permitirão ao aluno(a)/pesquisador(a) que proponha uma solução hipotética condizente com sua pesquisa.
Lembre(m)-se de mostrar ao seu orientador(a) o tema escolhido, o problema a investigar e os principais autores selecionados.
Regina Del Buono
Email: abntouvancouver@gmail.com
Skype: abntouvancouver2012
Referências
BARROS, José D’Assunção. As hipóteses nas Ciências Humanas — considerações sobre a natureza, funções e usos das hipóteses. Sísifo /Revista de Ciências da Educação, n. 7, set/dez.2008.
CARVALHO, Alex et al. Aprendendo Metodologia Científica. São Paulo: O nome da Rosa, p. 11-69, 2000.
PRAIA, João; CACHAPUZ, António; GIL-PEREZ, Daniel. A Hipótese e a experiência científica em educação em ciência: contributos para uma reorientação epistemológica. Ciência & Educação, v. 8, n. 2, p. 253-262, 2002. Disponível em: [https://www.scielo.br/pdf/ciedu/v8n2/09.pdf].